A sede da Associação Fotoativa, em Belém, recebeu até sábado, 13 de dezembro, a exposição “Persistência – Trilhar a Luz: Mostra do processo Paneiro Luminoso”, que apresentou os caminhos pedagógicos, artísticos e territoriais desenvolvidos ao longo de 2025 pelo projeto Paneiro Luminoso.

Com curadoria de Cláudia Leão, Paulo Meira e Irene Almeida, a mostra reuniu  fotografias, vídeos, depoimentos, desenhos e outros registros que documentam as ações realizadas pela Fotoativa em parceria com a MAZ – Maison de la Photographie Guyane-Amazonie, da Guiana Francesa. O conjunto não se propôs como exposição de obras finalizadas, mas como um testemunho vivo dos processos construídos coletivamente ao longo do projeto.

Sob coordenação do fotógrafo e arte-educador Miguel Chikaoka, as atividades aconteceram em escolas públicas, assentamentos rurais, comunidades quilombolas e indígenas.

Segundo ele, desde o início a proposta foi experimentar o Paneiro Luminoso em contextos diversos, tanto em termos de território quanto de público, com o objetivo de ampliar a reflexão e desenvolver um dispositivo pedagógico versátil, construído a partir da escuta e das realidades locais.

Belém, Pará, Brasil. Cidade. PROJETO PANEIRO LUMINOSO – FOTOATIVA – MAZ. Oficina Linguagem Fotografica com professores – Atividade na Escola Antônio Lemos em Santa Izabel do Pará. 20/05/2025. Foto: Irene Almeida

“O projeto se orientou por uma concepção de educação inspirada no pensamento de Paulo Freire, em que o conhecimento é construído a partir da experiência concreta dos participantes. Por isso, as atividades não eram aplicadas de forma padronizada. A condução variava conforme o contexto, levando em conta as expectativas das comunidades e o que poderia engajar cada grupo a partir de seus próprios valores e interesses”, explica Miguel Chicaoka.

Entre as práticas desenvolvidas, o destaque ficou com exercícios de “clique mental”, impressão botânica, registros com câmeras artesanais do tipo pinhole, desenhos feitos com pincel de luz sobre papel fotossensível e produção de zines.

“O clique mental busca estimular um olhar atento para o entorno sem a necessidade imediata de produzir uma imagem física. A proposta parte da ideia de que todas as pessoas possuem um olhar fotográfico e são capazes de narrar o mundo a partir do que observam”, disse o coordenador.

O uso de dispositivos simples — como molduras de papel, janelas recortadas ou câmeras obscuras — funciona como um exercício pré-fotográfico, ajudando a organizar o campo de visão e a estruturar o pensamento visual. Chicaoka cita como exemplo uma atividade realizada em uma escola, em diálogo com a disciplina de matemática, em que os estudantes exploraram o ambiente escolar para identificar formas geométricas planas, primeiro por meio da observação e depois por desenhos, integrando arte e conteúdo curricular.

Belém, Pará, Brasil. Cidade. PROJETO PANEIRO LUMINOSO – FOTOATIVA – MAZ. Dinâmica com professores e alunos da EEEFM Graziela Moura Ribeiro, localizada na Travessa Alferes Costa, 100 no Bairro da Sacramenta. 23/05/2025. Foto: Irene Almeida

Na exposição, esse conjunto de experimentações aparece como registro de processo, e não como resultado final. Chikaoka ressalta que a montagem foi guiada mais pelo fundo conceitual e pelo propósito filosófico e político do projeto do que pela ideia tradicional de obra acabada.

Quanto aos desdobramentos futuros, o fotógrafo aponta que o Paneiro Luminoso segue em construção. A partir de diálogos com educadores e da consultoria pedagógica de Márcia Bittencourt, a ideia é consolidar um dispositivo pedagógico plural, fluido e poroso, capaz de estimular práticas mais dialógicas, baseadas na escuta e na observação cuidadosa.

Como parte desse processo, foi desenvolvido um hotsite, pensado como alternativa ao formato tradicional de kit pedagógico, que continuará sendo alimentado e transformado ao longo do tempo.

Para Chikaoka, a continuidade e o aprimoramento do percurso são fundamentais. Ele destaca que, embora o projeto tenha partido da fotografia, rapidamente se expandiu para a Pedagogia da Luz, que compreende a imagem em um sentido ampliado, envolvendo memória, imaginário, corpo e outras linguagens.

Nesse horizonte, o Paneiro Luminoso se apresenta como uma plataforma aberta, capaz de incorporar dança, literatura, artes visuais e outras expressões, reafirmando seu caráter coletivo e plural.

‘A exposição “Persistência – Trilhar a Luz” ficou aberta na sede da Associação Fotoativa, oferecendo ao público a oportunidade de conhecer de perto um projeto que articulou educação, arte e território a partir da Amazônia.

https://holofotevirtual.com